sábado, abril 19, 2008

Parte 4

Hugo – Nunca pensei sobre esse prisma. Interessante. Mas você também adota uma posição muito cômoda no momento em que sai na noite para se relacionar com estranhos sem envolvimento afetivo algum. Isso também não se configura assistir uma peça e não participar dos atos efetivamente?

Luíza – Sim e não. Se você opta por se relacionar com pessoas desconhecidas, sem envolvimento afetivo não quer dizer que você estará o tempo todo no piloto automático e não sinta alguma coisa, que necessariamente seja amor ou algo que do tipo.

Hugo – Quer dizer que você sentiu algo quando ficamos essa noite?

Luíza – Sinceramente, não lembro. Mas isso é realmente importante?

Hugo – Você está se esquivando de novo Laura. Digo Luíza.

Luíza – Sabe estou em uma encruzilhada, me formei há 8 anos tenho um bom emprego, faço alguns freelas como tradutora, mas me sinto estagnada. Não consigo manter um relacionamento estável, nem tampouco encontrar aquilo que vai me tirar do marasmo profissional no qual me encontro.
Eu não quero parecer ingrata, mas não acho que eu esteja produzindo como deveria. Não consigo dar vazão ao meu potencial no meu atual ofício. Você me entende?

Hugo – Eu tenho no currículo três faculdades incompletas. Acho que sei o que você está passando.

Luíza – É mesmo? Quais foram os cursos?

Hugo – Comecei fazendo belas artes, depois história e por último, comunicação. Não consegui me adaptar a rotina de uma faculdade. Aquelas festas de repúblicas intermináveis e todas iguais. Professores egocêntricos, alunos mais preocupados com a última tendência da moda ou o último carro do ano. Basicamente foi tédio. Além de eu ser muito Macunaíma, sabe: Aí que preguiça!

Luíza – Já eu sempre tive muita disposição para a vida. Sempre briguei muito para alcançar os meus objetivos. Você sabe mulher no mercado de trabalho tem que cortar um dobrado para se impor. Sem falar o salário inferior ao dos homens. Não é fácil ser uma mulher empreendedora mesmo nos dias de hoje.

Hugo – Deve ser mesmo.

Luíza – Estou dizendo, para conseguir um cargo de chefia você tem que ter uma puta formação nas costas.

Hugo – De repente o que você sempre precisou foi mais leveza, se levar menos a sério.

Luíza – É, e quem vai pagar as minhas contas? Algum marido possessivo e machista que acha que o lugar da mulher é pilotando um fogão ou com a barriga molhada colada ao tanque? Não meu bem, nem pensar!

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