sábado, abril 19, 2008

Curta











Projeto de Curta Metragem:

“Jardim do Éden”

Argumento: Carlos Henrique Souza.


Sinopse:

Luíza e Hugo se conheceram na noite anterior numa dessas boates barulhentas, em que as pessoas limitam-se a se esbarrarem umas nas outras. Vão para um quarto de motel e na manhã seguinte não se reconhecem mais. As mentiras ditas na noite anterior - para impressionarem um ao outro – vão aos poucos caindo por terra. Numa espécie de acerto de contas com a vida, com seus medos, frustrações, carências afetivas, dilemas existenciais.
Ao final serão expulsos do Jardim do Éden de uma vida monótona, fria e sem tempero algum, onde ninguém sobreviverá.

Perfil Psicológico dos Personagens:

Luíza, 36 anos, formada em literatura inglesa. Trabalha numa agência de publicidade, é também tradutora. Mora sozinha há 8 anos. Recém saída de um relacionamento “aberto”, opta por só se relacionar com completos desconhecidos sem um envolvimento mais denso. Pensa em fazer mestrado na Irlanda no próximo ano. Na verdade é mais um meio de fuga para escapar da sua rotina estafante de urbanóide worklolic.

Hugo, 38 anos, após três faculdades incompletas já se conformou em ser um completo fracassado. Economicamente inviável. Tenta não ser duplamente fracassado também nos relacionamentos, mas só tem colecionado seguidas decepções. A última foi uma mulher 10 anos mais velha, que o trocou por uma mulher 20 anos mais nova. Prometeu que não mais se relacionaria com ninguém que não fosse um completo desconhecido, e só por uma noite apenas. Até encontrar Laura, ou será Luíza?

Cenário:

A ação se passa em um quarto de motel ou no quarto do Hugo. Ambos estão dormindo seminus. Laura acorda, olha para o lado e não se lembra quem é o homem com quem dormiu. Nem como veio parar naquele lugar. E ela nem gosta muito de quartos de motel. Ao se vestir, Hugo acorda e começa então toda a ação.

Hugo – Aonde você vai Laura?

Luíza – O que? Quem?

Hugo – Eu perguntei aonde você vai tão cedo?

Luíza – Do que você me chamou mesmo?

Parte 2

Hugo – Laura. É esse o seu nome, não é?

Luíza – É, quer dizer, não.

Hugo – Mas foi esse que você disse que se chamava ontem, quando nos conhecemos...

Luíza – Eu não me lembro quase nada das coisas que fiz e disse na noite anterior.

Hugo – É uma pena, pois nós tínhamos feitos vários planos para ficarmos juntos.

Luíza – Vários, é?

Hugo – Sim, vários. Inclusive, combinamos de passar-mos o natal em Gramado.Você disse que tinha parentes por lá. Mas é sério mesmo, você não se lembra de nada?

Luíza – As pessoas não costumam levar em consideração palavras ditas entre doses de cuba, mojito e fumaça de carlton.

Hugo – Mas com você parecia ser diferente.

Luíza – Sempre parece... Até a próxima decepção. Mas o que é que se há de fazer?

Hugo – Você é sempre assim?

Luíza – Assim como?

Hugo – Fria, pragmática.

[Luíza acende um cigarro]

Luíza – São características essencialmente masculinas não? Além de ser dois belos adjetivos. Confesso que nunca fui chamada de fria e pragmática numa mesma noite por uma mesma pessoa. Deve ser um sinal...

Hugo – Também pensei em outros adjetivos, quer ouvi-los?

Luíza – Não, guarde-os para você. Quem sabe em outra ocasião.

Hugo – Pelo visto não com você.

Luíza – É, acho que não.

Hugo – Me dá um cigarro?

Luíza – Você fuma, é?

Hugo – Sim, por que algum inconveniente?

Luíza – Absolutamente.

Parte 3

Hugo – Ótimo.

[Hugo ascende um cigarro]

Hugo – Devo ter bebido muito ontem. Tava precisando. Ultimamente tenho tido dias de cão.

Luíza – E quem não tem tido dias de cão hoje em dia, não é mesmo? Dizem que é mal do século. Sinal dos tempos. Eu particularmente nunca acreditei muito nisso não.

Hugo – Acho que estamos todos vivendo a síndrome de “Último Tango em Paris”.

Luíza – Como assim?

Hugo - Essa coisa meio autodestrutiva de se relacionar com estranhos sem nem ao menos saber seu nome.

Luíza – Mas no filme era Marlon Brando e Maria Schneider, não é meu bem ? Não era um casal qualquer. Ela era bem mais resolvida sexualmente e afetivamente que ele. Logo no início já dá para perceber que ele é uma pessoa bastante atormentada. Além de machista. Obrigar ela a fazer sexo anal. Quase um estupro, assim, como forma de subjugação. Detestaria que alguém fizesse isso comigo.

Hugo – Mesmo que essa pessoa fosse o Marlon Brandon, num apartamento em Paris?

Luíza – Não sei... Num apartamento em Paris, com Brandon. A que se pensar na possibilidade...

Hugo – É, não sou nenhum Marlon Brandon e creio não estarmos em Paris.

Luíza – E eu não nenhuma Maria Schneider. Estamos quites.

Hugo – Ficção é sempre melhor que a realidade. Logo, cinema é meio de escape de uma vida desinteressante. Lembra de Mia Farrow em “A Rosa Púrpura do Cairo”. Assiste ao mesmo filme toda noite como forma de escapar da vida tediosa proporcionada pelo marido canalha viciado em jogatina que a explora descaradamente.

Luíza – É, mas mais cedo ou mais tarde ela teve de enfrentar a sua própria mediocridade cotidiana. Além da quase traição do ator do filme, alvo de sua adoração, que no final acaba por preferir volta à sua “realidade” das telas. Uma excelente metáfora.

Hugo – Mas ficou a lembrança de ruptura com as suas mazelas domésticas, mesmo que de um modo efêmero. Isso por si só vale a pena.

Luíza – Você é um tanto romântico, não?

Hugo – Sou cinéfilo. Gosto de apreciar boas tramas.

Luíza – Essa posição de mero espectador não te incomoda? Quer dizer, é muito cômodo, não participar dos atos de uma peça. Por medo de sofrer, se decepcionar.

Parte 4

Hugo – Nunca pensei sobre esse prisma. Interessante. Mas você também adota uma posição muito cômoda no momento em que sai na noite para se relacionar com estranhos sem envolvimento afetivo algum. Isso também não se configura assistir uma peça e não participar dos atos efetivamente?

Luíza – Sim e não. Se você opta por se relacionar com pessoas desconhecidas, sem envolvimento afetivo não quer dizer que você estará o tempo todo no piloto automático e não sinta alguma coisa, que necessariamente seja amor ou algo que do tipo.

Hugo – Quer dizer que você sentiu algo quando ficamos essa noite?

Luíza – Sinceramente, não lembro. Mas isso é realmente importante?

Hugo – Você está se esquivando de novo Laura. Digo Luíza.

Luíza – Sabe estou em uma encruzilhada, me formei há 8 anos tenho um bom emprego, faço alguns freelas como tradutora, mas me sinto estagnada. Não consigo manter um relacionamento estável, nem tampouco encontrar aquilo que vai me tirar do marasmo profissional no qual me encontro.
Eu não quero parecer ingrata, mas não acho que eu esteja produzindo como deveria. Não consigo dar vazão ao meu potencial no meu atual ofício. Você me entende?

Hugo – Eu tenho no currículo três faculdades incompletas. Acho que sei o que você está passando.

Luíza – É mesmo? Quais foram os cursos?

Hugo – Comecei fazendo belas artes, depois história e por último, comunicação. Não consegui me adaptar a rotina de uma faculdade. Aquelas festas de repúblicas intermináveis e todas iguais. Professores egocêntricos, alunos mais preocupados com a última tendência da moda ou o último carro do ano. Basicamente foi tédio. Além de eu ser muito Macunaíma, sabe: Aí que preguiça!

Luíza – Já eu sempre tive muita disposição para a vida. Sempre briguei muito para alcançar os meus objetivos. Você sabe mulher no mercado de trabalho tem que cortar um dobrado para se impor. Sem falar o salário inferior ao dos homens. Não é fácil ser uma mulher empreendedora mesmo nos dias de hoje.

Hugo – Deve ser mesmo.

Luíza – Estou dizendo, para conseguir um cargo de chefia você tem que ter uma puta formação nas costas.

Hugo – De repente o que você sempre precisou foi mais leveza, se levar menos a sério.

Luíza – É, e quem vai pagar as minhas contas? Algum marido possessivo e machista que acha que o lugar da mulher é pilotando um fogão ou com a barriga molhada colada ao tanque? Não meu bem, nem pensar!

Parte 5

Hugo – Não estou falando de se castrar profissionalmente. Estou falando de não se importar tanto com status, grana, superação do sexo masculino. De repente isso nem tem tanta importância.

Luíza – As coisas têm a importância que damos a ela. Logo essas coisas num escala de prioridades estão no topo.

Hugo – Não está na hora de você rever essas prioridades?

Luíza – Talvez.

Hugo – Você só diz isso?

Luíza – Diz isso o que?

Hugo – “Talvez”, nunca diz uma resposta mais direta.

Luíza – Até onde eu sei você mal me conhece e já está tirando conclusões apressadas sobre mim?

Hugo – Eu não preciso te conhecer desde a mais tenra idade para saber que o motivo da sua “estagnação” é a sua obsessão por status, grana.

Luíza – Você me subestima tanto a ponto de me reduzi a uma mera feminista caricata que só pensa em status, igualdade dos sexos e todos esses clichês baratos da década de 70? Quer que eu também faça uma análise apressada sobre a sua personalidade? Eu não sei se te disse, mas eu sou boa nisso.

Hugo – Por que você está sendo cínica comigo?

Luíza – [sarcástica] Eu estou sendo cínica com você? Me desculpe não foi essa a minha intenção. É que eu não gosto que estranhos fiquem me analisando sem o meu consentimento e me digam o que fazer.

Hugo – Desculpe, não vou mais te amolar.

Luíza – Desculpe, é que não ando muito bem ultimamente.

Hugo – E quem não anda, não é mesmo? Eu estou com a mediocridade até o pescoço. Já pensou asfixia por excesso de mediocridade?

Luíza – Já eu estou com ela até a altura do joelho e subindo assustadoramente...

Hugo – Deve ser como você disse mal do século.

Luíza – Dos séculos...

Hugo – Você já assistiu a aquele filme do Almodóvar em que a personagem da Cecília Roth perde o filho, e sai à procura do pai do garoto?

Parte 6

Luíza – “Tudo Sobre Minha Mãe”.

Hugo – Isso.

Luíza – E daí?

Hugo – Deve ser a mesma sensação que você está sentindo, não?

Luíza – Não entendi.

Hugo – É uma metáfora. Como se a perda do “seu filho” fosse a morte do seu cotidiano, os seus planos, desejos, sonhos frustrados por algum motivo. E a busca do “pai” fosse a busca por algo maior, uma explicação do por que do descaminho da vida, entendeu?

Luíza – Interessante.

Hugo – E no final o pai do garoto é um travesti. Quer dizer não se encontra uma explicação aceitável para as questões anteriores. O peso insofismável do fracasso.

Luíza – Subalimentada dos sonhos.

Hugo – Não sei. Acho que isso é mais uma auto-análise minha do que sua. Desculpe. Como disse tenho tido dias de cão. Estou no olho do furacão há anos.

Luíza – Por que a gente faz isso Hugo?

Hugo – Faz isso o que?

Luíza – Por que nós simplesmente não facilitamos as coisas.

Hugo – Continuo não entendendo...

Luíza – Complicar menos as coisas. Se preocupar menos. Se levar menos a sério. Se doar mais sem cobranças inúteis. Desejos de posse em relação ao outro. Sabe, menos joguinhos que não levam há lugar nenhum. Ciúmes bobos. Pactos de felicidades que nunca existiram. Você me entende?

Hugo – Acho que sim. Também já pensei nisso várias vezes.

Luíza – Já chegou a uma conclusão?

Hugo – Acho que os seus/meus questionamentos já respondem as questões iniciais. Quer dizer, temos vocação para sofrer ou não sabemos amar como deveria? Ou as duas opções?

Luíza – Acho que prefiro ser devorada.

Hugo – O que?

Luíza – O enigma da esfinge: “Decifra-me ou te devoro”.

Parte 7

Hugo – Ou o bloco de carnaval que ao chegar num beco sem saída dá cinco passos para frente e três para trás.

Luíza – Como naquela canção: “Todo carnaval tem seu fim”.

Hugo – E nós nem estamos na quarta-feira de cinzas.

Luíza – Senhora do silêncio.

Hugo – O que?

Luíza – Era como Fernando Pessoa chamava a lua.

Hugo – Linda a expressão.

Luíza - Ontem foi noite de lua cheia, não?

Hugo – Não me lembro.

Luíza – Uma vez fiz sexo numa praia deserta. Era uma noite linda. A lua estava lá no céu, bola dourada. Lembro que depois fomos nus para o mar, banho de lua. Foi a minha primeira decepção amorosa.

Hugo – Com a transa ou com a pessoa?

Luíza – O sexo foi ótimo, mas o cara... Caí na besteira de dizer para ele: eu não existo sem você. Sabe como é: não demonstre dependência afetiva de homem algum ou ele te fode. Tipo: consegui seduzi-la e comê-la, agora não tem mais importância. Vou atrás da próxima vítima.

Hugo – Acho que você está sendo muito simplista, reducionista. Achar que todos os homens são canalhas é recalque feminista. As pessoas são mais complexas e subjetivas que uma mera análise apressada psedo-freudiana.

Luíza – Você diz isso porque é homem. E vocês são corporativistas.

Hugo – Não se trata de ser homem ou corporativista, e sim por não concordar com a idéia de que todos os homens são canalhas, escroques e insensíveis a ponto de não merecerem o crédito feminino.

Luíza – O que afinal você quer? Está falando horas a fio e não consegue ser objetivo um minuto sequer. Você quer me enlouquecer? É isso, você quer me enlouquecer?

Hugo – Não meu bem, não quero te enlouquecer> Aliás, isso nunca passou pela minha cabeça. Eu só não gosto de analisar as coisas por um viés manisqueísta.

Luíza – Ah, e por qual viés você gosta de analisar as coisas?

Hugo – Por um viés menos preconceituoso e lugar comum possível.

Parte 8

Luíza – Vê-se que você não tem muita experiência com relacionamentos.

Hugo – É posso até não ter mesmo, mas sei relativizar as atitudes supostamente sem explicação do outro.

Luíza – Quem se importa? Você não tem alguma bebida para servir aos seus visitantes, não?

Hugo – Tenho vinho tinto, mas você não acha que é muito cedo para beber?

Luíza – Te pedi uma bebida não conselhos matinais. O que você é? Alguma espécie de ex AAA?

Hugo – Não, é que parei de beber faz algum tempo. Fui ex-alcoólatra.

Luíza – Sei ex-alcoólatra que guarda vinhos na despensa...

Hugo – Como você bem disse é para as possíveis visitas não ficarem com a boca seca.

Luíza – Não tem nada de mais mesmo. É como um ex-usuário de drogas que mantém uma pequena quantia para o consumo dos amigos. Muito amável de sua parte.

Hugo – Você não dá o braço a torcer mesmo, não é?

Luíza – Algum inconveniente nisso?

Hugo – Acho que não.

Luíza – Coloca uma música pra gente.

Hugo – Mas, é claro. O que você gostaria de ouvir?

Luíza – Algo que preste, de preferência. Confio no seu bom gosto.

Hugo – Deixe-me ver. Gosta de Chico?

Luíza – Não, muito sentimental.

Hugo – Nina Simone?

Luíza – Voz muito andrógena.

Hugo – Miles Davi, então?

Luíza – Miles Davis me dá sono.

Hugo – Difícil hein? Quem sabe Ella Ftzgerald?

Luíza – Você só ouve jazz?

Parte 9

Hugo – Ouço um pouco, por que, você não curte?

Luíza – Não dessa forma obsessiva.

Hugo – Não ouço jazz obsessivamente. Por que você mesma não escolhe o que quer ouvir?

Luíza – Você tem algum cd da Marina?

Hugo – Marina Lima?

Luíza – Sim, sim Marina Lima. Você conhece alguma outra cantora chamada Marina?

Hugo – Nossa como você é cínica!

Luíza – E como você é sentimentalóide. Estamos quites.

Hugo – Você vai escolher o cd ou não?

Luíza – Tá bom, que mau humor horroroso.

Hugo – Você ainda não viu nada...

Luíza – uhhhhh. Devo ter medo agora ou depois do seu acesso de fúria?

Hugo – Você não vai conseguir me destemperar.

Luíza – Achei. Adoro esse cd. Marina Lima “O chamado”. [Luíza coloca o cd seleciona a faixa, e ouve quase em êxtase]

Hugo – Também gosto dessa música.

Luíza – “... O céu deve ser assim, o céu deve isso a mim...”, cantarola.

Hugo – Não gosto muito da Marina, só de algumas músicas.

Luíza – Já eu adoro.

Hugo – Ela não anda numa fase muito boa.

Luíza – Pra mim ela está ótima. Essa é a diferença entre ser fã e ouvinte ocasional.

Hugo – Não isso é saber separar o lado fã do senso critico. Reconhecer um mau momento do ídolo. Não deixar a tietagem te cegar para golpes de marketing inescrupuloso de gravadoras.

Luíza – Então sou eu quem deveria se levar menos a sério?

Hugo – Não entendi a associação.

Parte 10

Luíza – Deixa pra lá.

Hugo – Deixa pra lá nada, agora fala.

Luíza – Tenho que ir embora. Já é tarde.

Hugo – Mas já? Ainda temos muito que conversar.

Luíza – Conversar sobre o que? Até o momento você não perdeu uma única chance de mostrar para mim o quanto você é superior intelectualmente que eu. Além de mais maduro e sexualmente mais resolvido do que eu. Me senti a noite inteira na presença do meu irmão mais velho. O mais experiente, esclarecido, racional... Já passei por isso e o saldo não foi bom.

Hugo – Desculpe se a impressão que causei em você não foi das melhores.

Luíza – Também não devo ter causado uma boa impressão em você.

Hugo – Claro que não. Tirando um egocentrismo aqui e uma certa futilidade acolá, até que o resultado foi positivo.

Luíza – Eu realmente preciso ir.

Hugo – Não vá ainda.

Luíza – Sinto muito, tenho que ir.

Hugo – Deixe pelo menos o seu telefone.

Luíza – É melhor não. A gente se vê na noite qualquer dia desses.

Hugo – Mas, deixe eu me explicar. Desculpe os vários furos que dei essa noite.

Luíza – Não tem nada a ver com você é que realmente tenho que ir.

Hugo – Mas assim do nada? Precisamos nos conhecer melhor.

Luíza – Passamos uma noite juntos, não foi o bastante?

Hugo – Mas você mesma disse que não se lembra de nada sobre a noite anterior?

Luíza – Lembro o bastante para não querer prolongar essa conversa.

Hugo – Laura, quer dizer Luíza me de mais uma chance.

Luíza – Hugo não faça isso, não é nada com você. É que realmente preciso ir.

Hugo – Então vai sua puta. É isso mesmo, você não passa de uma bela de uma puta. Tá pesando que pode chegar aqui e brincar com os sentimentos dos outros? Agora nem que você me pedisse de joelhos eu ia te querer mais. Isso vai embora de uma vez.

Parte 11

Luíza – É melhor eu ir mesmo. Você está descontrolado. Detesto homens descontrolados.

Hugo – Suma de uma vez sua desgraçada! Maldita hora em que te conheci.

Luíza – A gente se vê por aí.

Hugo – Se depender de mim, não. Sua vampira de sentimentos. É isso o que você é. Sai na noite vampirizando os outros. Você é uma caricatura dos cafajestes com quem se envolveu e foi abandonada por eles.

Luíza – Mau perdedor. Não lida bem com fracassos, é?

[Hugo ameaça jogar um copo em Luíza e ela sai]

Hugo – Vaca!

Hugo procura por algo dentro do armário. Vai jogando todas as roupas pra fora, até encontrar uma garrafa de uísque.

Hugo – E quem se importa com mulheres. São todas vadias. Exploradoras.

{Bebe no gargalo mesmo]

Hugo – Mas você parecia ser diferente Luíza. Por que você foi me abandonar sua bandida. Você nunca será feliz sem mim.

[Bebe de novo]

Hugo – Amanhã te procura meu amor. [Cheirando uma peça de roupa que Luíza esqueceu na cama]

Hugo - Vou te encontrar até no inferno, meu amor. Eu te amo. Nascemos um para o outro.

[Hugo bebe mais e procura o cd da Marina seleciona a faixa favorita de Luíza e se deleita]

Hugo – Ela teria gostado do cd do Miles Davis. É impossível não gostar do Miles Davis. Até a Heloísa gostava. Ela ainda gostaria se não tivesse me abandonado. Aquela cachorra. As mulheres são todas iguais. Sentimentais, frígidas. Mas a Luíza parecia ser diferente.

[Bebe de novo]

Hugo – Luíza você ainda vai ser minha. Ou não me chamo Luís.