Clarice – Falta-lhe o álibi da ignorância.
Marcos – Nunca precisei de álibi.
Clarice – Me dá um cigarro?
Marcos – Não gosto de dividir meus cigarros com estranhos.
Clarice – Você dormiu com uma estranha por oito anos. Isso deve fazer alguma diferença.
Marcos – Não com você.
Clarice – Covarde, isso é o que você é!
Marcos – Não adianta elogiar.
Clarice – Deus costumava punir escroques como você.
Marcos – Isso foi há muito tempo. Além do mais, Deus é amor, lembra?
Clarice – Intelectual prolixo desvairado!
Marcos – Parece que fui pego em flagrante.
Clarice – Não se preocupe que eu escreverei o seu epitáfio.
Marcos – Ah, é? E o que vai escrever na lápide?
Clarice – “O coveiro pediu demissão ontem. Fizemos o possível.”
Marcos – A saudade é um proletariado desempregado.
Clarice – Que vontade de assassinar à pauladas esse seu ar superior de burguês decadente.
Marcos – Fique à vontade meu bem.
Clarice – Santo Expedito, me socorra!
Marcos – Ele não está para hereges como você.
Clarice – Não se intrometa, isso é entra mim e ele.
Marcos – [para si] Agora ela fala com santos... onde eu fui me meter?
Clarice – Acho que os seus pecados já secaram no varal. Quer que eu os recolha?
Marcos – Não se dê trabalho, você já tem os seus para se preocupar.
Clarice – Você irá direto para o inferno por superávit de pecados e amoralidades.
Marcos – Desde quando te trair é considerado amoral ou um pecado digno de uma punição tal como uma estadia prolongada no inferno? Ah, a boa e velha Clarice, sempre egocêntrica e prolixa.
Clarice – Prefiro você ao natural, meu bem. Essa auto-caricatura de cafajeste sem escrúpulos não combina com você. Aliás, combina e muito. Tirando, é claro, o cinismo. Esse é chupado de “Manuais de como torturar suas ex-atuais namoradas sem se despentear.” Você se superou caríssimo.
Marcos – Você nunca gostou muito de matemática, não é mesmo? Pois vou te explicar uma equação que consegui resolver a poucos dias: Clarice+Marcos+dias vividos juntos=tédio. Entendeu ou quer que desenhe?
Clarice – Cavalo manco vindo de uma guerra perdida.
Marcos – Você só consegue se comunicar através de metáforas? Já está ficando cansativo.
Clarice – Faço parte de um triangulo amoroso, ou o que? Sim, pois tenho que dividir você com as metáforas que “utilizo em demasia”.
Marcos - Chega dessa música de elevador!
Clarice - Envenena-me com a tua ignorância.
Marcos - Por que vocês mulheres tem sempre que usar velhos clichês feministas tirados de romances baratos de banca de jornal?
Clarice - Vai continuar com essas grosserias no varejo ou vai apelar para o atacado?
Marcos - Que falta me faz uma garrafa de jack daniels...
Clarice - Prefiro uma boa trepada. Sem brochadas, é claro.