"Deixei de interessar-me por gente simplismente inteligente." (Fernando Pessoa)
quinta-feira, setembro 21, 2006
"Riscos" - Goethe
Do que adianta você ter esta alma colada aos ossos dessa carne errada ?
Sem o risco, a vida não vale a pena.
Se você não quiser arriscar, não comece.
Isso quer dizer: se você arriscar, perder namorada, esposa, filhos, emprego, acabeça, e até a alma.
Mas, é sempre melhor isso do que olhar pra todas essas outras pessoas que nunca acertam porque nunca se propõe ao risco.
"Nus em Maio"
Vamos Ritinha
Vamos ler Fante na praia.
Pisaremos o chão
Minado de estrelas mortas.
Cataremos conchas para enfeitar
O nosso túmulo improvisado
Na areia.
Acenderemos uma fogueira
Com notas de um real.
Troco daquela garrafa
De comhaque barato
Que compramos no estrada.
E ao final,
Tomaremos banho de mar
Nus
Deixaremos para Iemanjá
Todas as nossas reticências.
Que ela farte-se
O tempo costumava parar
quando olhavamos para
sua imensidão azul.
Deve ter-se entediado
De nós.
Vamos Ritinha
Vamos ler Fante na praia.
sábado, setembro 16, 2006
"Não Quero" - Mário Quintana
Não quero alguém que morra de amor por mim... Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando. Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade. Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim... Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível... E que esse momento será inesquecível... Só quero que meu sentimento seja valorizado. Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor. Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto. Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho... Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento... e não brinque com ele. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo... Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz. Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,talvez obterei êxito e serei plenamente feliz. Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas... Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim". Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento. Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!!!
terça-feira, setembro 12, 2006
segunda-feira, setembro 11, 2006
"Jazzística"
Vários dias sem me comunicar
Será que voltei a ser anti-social?
Terei voltado a mentir em tempo integral?
Voltado a ser servil ao inimigo?
Algemado ao marasmo ritual
Acordar, levantar, andar...
Olhar-me no espelho
Conseguirei?
Sigo abrindo gavetas
Acomodando minhas almas mortas.
Que faço com essa vidinha?
Hipoteco, alugo, empresto, troco
Ou simplismente, vendo-a?
Mas a quem?
Ao santo não há de ser...
sexta-feira, setembro 08, 2006
"Panamá ao Sol"
Sigo o meu estágio de ibernação
Não me comunico nem mesmo
Com o meu cão.
As flores já morrerram
Por falta d' água.
Acho que me foi raptado
A vontade de ser inteligente.
Perdi minha imunidade camaleônica
De adaptar-me a ignorância alheia.
O fraque ficou curto
E a noiva resolveu não aparecer.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Terminal de Ônibus
- Oi.
- Oi.
- Você chegou agora?
- Há uns dez minutos.
- Desculpe te fazer esperar.
- Não faz mal.
- É que o coveiro morreu ontem.
- Sei...
- Sei o que?
- Nada não.
- Fala.
- Esquece, não é importante.
- Agora fala. Detesto histórias incompletas.
- Não era uma história.
- Força de expressão. Vai contar ou não?
- Já disse que não é importante.
- Deixa pra lá...
- Trouxe o que te pedi?
- Deu um puta trabalho.
- Consegui?
- Sim. Aqui está.
- Mas não foi essa que eu te pedi...
- Você não me disse que era a vermelha?
- Não, eu disse preta!
- A cor é tão importante?
- É claro! d. Áurea disse que tinha de ser preta.
- Vai demorar...
- Quanto?
- Uma semana.
- É muito. Não posso esperar tanto.
- Cinco dias.
- Quatro.
- Combinado. Tenho que ir.
- Espere. Dê-me a vermelha.
- Tudo bem. Até quarta.
- Até.
Hummm! O cheiro continua o mesmo.
Ainda não me traiu.
segunda-feira, setembro 04, 2006
"Cocaine"
Alice não mora mais aqui. Partiu sem se despedir. Fugiu sorrateira pelo telhado. Na calada da noite. Gata negra. Como a noite que a envolve. Partiu ciente de que encontraria abrigo em camas alheias. Camas essas, talvez, mais modestas, não menos acolhedoras. Era fissurado naquela nega.
Que coxas! Amoras maduras. Os seios! Dois anéis de Saturno.
Acho que ela não suportava traição. Costumava acordar sempre de mau humor. Eu também. Nunca gostou de dividir cigarros. Nem mesmo seu bourbon.
Era fissurado mesmo assim naquela neguinha.
Certa vez, me bateu com uma colher de pau. Disse que eu não tinha modos à mesa. Eu nunca soube como utilizar todos os talheres corretamente. Gosto mesmo é de comer com as mãos.
Também implicava com a minha displicência ao atravessar a rua. Ela não queria me ver morto.
Era fissuardo naquela neguinha. Melhor voltar a dormir. Talvez sonhe de novo com ela. Esgueirando-se lânguida em becos sujos e mal freqüentados. Ou quem sabe, morta numa sarjeta fedorenta que é o seu destino. Morta por um cafetão ciumento. Devendo o aluguel semanal do seu quarto fétido que dividia com um traveco sem dentes.
É isso. Morra sua puta! Te encontro no inferno.
“Nunca alguém pareceu tão triste. Amarga e escura, a meio caminho nas trevas, sob o feixe de luz que fugia do sol para encerrar-se nas profundezas, talvez uma lágrima se tenha formado; e uma lágrima caiu; as águas agitaram-se de lado para o outro e receberam-na depois, acalmaram-se. Nunca alguém pareceu tão triste.”
(Rumo ao Farol/ Virginia Woolf)
Cafés, Cigarros, Virginia Woolf e Algum amor
Marta acordou tremendo. Fazia muito naquela hora da manhã. Parece não ter tido pesadelos naquela noite. A única coisa que se lembrava era que precisava fumar um cigarro. Mas, onde tinha colocado o maço de cigarros? Teria ainda ao menos um solitário na bolsa? Nada. Talvez ele tivesse. Procurou em todos os bolsos da calça . Em vão. Ele disse que tinha parado de fumar. Droga!
Começou a se vestir para descer e comprar um maço novo, quando percebeu um movimento na cama. Ele era to bonito enquanto dormia. Gostava de ver pessoas dormindo.
Parecem tão desprotegidas. Mas naquele momento não gostou de ter alguém dormindo na sua cama. Podia ouvir de longe, em algum apartamento a canção: “...e se não houvesse o amor...”. Uma sensação ruim brotou no seu peito.
Pedro era o nome dele. Já fazia algum tempo que estavam juntos. Ma sempre tivera a sensação de tê-lo conhecido na noite passada tamanho era o desconforto em pensar numa relação de quase dois anos com alguém.Preciso de um cigarro.
Enquanto vestia o suéter notou que ele a observava.
- Aonde você vai?
- Comprar cigarros.
- Devia para de fumar.
- Devia, é?
- Sim, as pessoas costumam morrer de câncer...
- Morrer-se de outras formas também.
- Mas, é bom não facilitar.
- Você me ama?
- O que?
- Eu perguntei se você me ama.
- Porque a pergunta a essa hora da manhã?
- Não sei. Só queria saber se você me ama.
- Você e os seus clichês matinais à queima roupa.
- E qual é o problema?
- Nenhum. Exceto eu ainda não ter tomado o meu café.
- O que uma xícara de café tem haver com isso?
- O que o amor tem haver com nós?
- O que?