segunda-feira, novembro 27, 2006
















A objetividade da fotografia
não existe.
Erram os que acham
que ela retrata o real.
O que há é que
quando o fotográfo
diz:
Olha o passarinho!
Uma ave de assas obilongas
sai de dentro do olho
da câmera com
o embornal de pinceizinhos
e uma paleta de cores.
Sobrevoa a cabeça do fotográfo
e pousa sobre o seu ombro esquerdo.
E de lá, pinta a cena.
Em suma, a fotografia, é
uma ópera de passarinhos.

(Ópera de Passarinhos/Chacal)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Adriana Calcanhotto





















SOU DO RIO GRANDE NÃO TENHO MEDO DE NADA. AMO O RIO DE JANEIRO. TENHO DIFICULDADE EM DIZER NÃO. GENTE CARETA ME ESNOBA. TENHO PÉSSIMA MEMÓRIA PARA NOMES. EU QUASE NÃO GOSTO DE MÚSICA. USO A MESMA CALÇA PRETA HÁ TRÊS ANOS. COZINHO MUITO BEM, MAS TENHO PREGUIÇA. ODEIO ABÓBORA. AMO ELIZABETH TAYLOR. NUNCA FIZ COLEÇÃO. ADORO AJUDAR MEUS AMIGOS SE ALGO ESTIVER A MEU ALCANCE. SOU LENTA PARA REVIDAR. ADORO CORES. NÃO TOLERO ACOMODAÇÃO DE GENTE QUE TRABALHA COMIGO. SOU PONTUAL. SOU DO RIO GRANDE NÃO TENHO MEDO DE NADA. AMO O RIO DE JANEIRO. TENHO DIFICULDADE EM DIZER NÃO. GENTE CARETA ME ESNOBA. TENHO PÉSSIMA MEMÓRIA PARA NOMES. EU QUASE NÃO GOSTO DE MÚSICA. USO A MESMA CALÇA PRETA HÁ TRÊS ANOS. COZINHO MUITO BEM MAS TENHO PREGUIÇA. ODEIO ABÓBORA. AMO ELIZABETH TAYLOR. NUNCA FIZ COLEÇÃO. ADORO AJUDAR MEUS AMIGOS SE ALGO ESTIVER A MEU ALCANCE. SOU LENTA PARA REVIDAR. ADORO CORES. NÃO TOLERO ACOMODAÇÃO DE GENTE QUE TRABALHA COMIGO. SOU PONTUAL. PARO NO SINAL VERMELHO. TORRO PEQUENAS FORTUNAS EM LIVROS DE ARTE. DETESTO GENTE SEM HUMOR. ÀS VEZES DOU ESMOLAS. AMO MILES DAVIS. RECLAMO MUITO. SEI PEDIR DESCULPAS. COMPRO DISCOS PELA CAPA. NÃO GUARDO MÁGOAS. ADORO BICHOS. NÃO LIGO PRA DINHEIRO. MORO NO JARDIM BOTÂNICO EM UM PEQUENO APARTAMENTO PINTADO DE AMARELO. OUÇO TODAS AS FITAS QUE ME MANDAM. ADORO DANÇAR. AMO BALANCHINE. NÃO SUPORTO A SÍNDROME RETRÔ. DETESTO QUINQUILHARIAS. AMO MONDRIAN. GOSTO DE LAVAR LOUÇA. PRECISO FICAR SOZINHA. GOSTO DO BOTAFOGO. TORÇO PELO GRÊMIO. NÃO SEI JOGAR CARTAS. ADORARIA FAZER UMA TRILHA PARA CINEMA. GOSTARIA DE JOGAR GOLFE. AMO TÀPIES. BEBO CAFÉ DEMAIS. NÃO GOSTO DE AR CONDICIONADO. MINHA MÃE DIZ QUE EU MUDO MUITO. SOU ESGANADA. DETESTO VERDE-PISCINA. AMO JOÃO CABRAL. NÃO SEI TOCAR VIOLÃO. TOCO VIOLÃO BEM. TENHO BRAÇOS LINDOS. IBERÊ CAMARGO PINTOU MEU RETRATO. CONHEÇO E RECONHEÇO AS PESSOAS PELAS MÃOS. NÃO TOLERO DESPERDÍCIO. DETESTO COURANT D'AIR. AMO LINA BO BARDI. EU NÃO GOSTO DO BOM GOSTO. DETESTO REMÉDIO. SOU MUITO PELUDA. ADORO A RAINHA DA INGLATERRA. ADORO BRIE. GENTE CAFONA ME ESNOBA. NUNCA SOUBE O QUE FAZER COM AS MÃOS NA PRESENÇA DE CELEBRIDADES. MEUS AMIGOS DIZEM QUE EU MUDO MUITO. SEMPRE FUI FELIZ NO AMOR. AMO MARLON BRANDO. ADORO O GUIMAS DA GÁVEA. NÃO VIVO SEM CHAMPANHE. TENHO UM "BICHO" DE LYGIA CLARK. DURMO BEM MENOS DO QUE GOSTARIA. ADORO GENTE QUE DIZ "É RUIM HEIN?!". DETESTO GENTE QUE MITIFICA. GOSTO MUITO DE DIRIGIR. NÃO GOSTO DE MISTÉRIO. DESPREZO GENTE FITEIRA. ADORO VERMELHOS E ROSAS. HOSPEDO INFRATORES E BANIDOS. PAREI DE FUMAR. NÃO TENHO SUPERSTIÇÃO ALGUMA. AMO JOHN CAGE. NUNCA QUIS TER FILHOS. A PRIMEIRA PALAVRA QUE EU LI FOI "MÉXICO". NÃO GOSTO DE ME APRESENTAR NA TELEVISÃO. ADORO MINHAS MÃOS. ADORO RIR DE MIM MESMA. SOU PERDIDA POR GENTE DOIDA. AMO ISSEY MIYAKE. DETESTO VELHARIAS. JORNALISTAS DIZEM QUE EU MUDO MUITO. DESPREZO GENTE QUE SE LEVA A SÉRIO. ADORO ARISTOCRATAS. NÃO SEI VIVER SEM FRUTAS. SOU BASTANTE DISCIPLINADA. QUERO MUITO CONHECER O EGITO. TENHO INVEJA DOS ELEFANTES. AMO AUGUSTO DE CAMPOS. ADORO CORES DO MEDITERRÂNEO. ADORO A COMIDA DA PROVENCE. NÃO SUPORTO FREESHOP E AQUELE MONTE DE BUGIGANGAS. DETESTO GENTE DESLUMBRADA. AMO MERCE CUNNINGHAM. QUERO FAZER CANÇOES BEM SIMPLES. QUERO SABER PARA QUÊ SERVE UMA CANÇÃO. AMO ANDY WARHOL. SOU ESTRÁBICA. ADIO DECISÕES MUITO IMPORTANTES. CALÇO 38. TENHO UM "TREPANTE" DE LYGIA CLARK. ADORO VINHO. NÃO SEI DAR ENTREVISTAS. ADORO A MANGUEIRA. EU QUERO O MORRO DOIS IRMÃOS ILUMINADO. ADORO MERGULHAR EM ANGRA. AMO MARIO PEIXOTO. GENTE INCULTA ME ESNOBA. ADORO AZUIS. ADORO KLEIN. ADORO KLEE. AMO MATISSE. EU SEMPRE DIGO SIM. EU GOSTO DE FAZER SHOWS. ADORO CANTAR NO RIO. EU DURMO NO AVIÃO. SOU GENEROSA EM DEMASIA. AMO GERTRUDE STEIN. SOU LOUCA POR ORQUÍDEAS. ESTOU FULMINADA POR UM AMOR HÁ SETE ANOS. AMO HÉLIO OITICICA. ADORO JOAQUIM PEDRO. DETESTO ESTETIZAÇÃO. ODEIO FOLCLORIZAÇÃO. EU NÃO GOSTO DE ME VER NO VÍDEO. AMO OSWALD DE ANDRADE. TENHO UMA LITOGRAVURA DO MIRÓ. NO INVERNO NÃO TOMO CAFÉ DA MANHÃ SEM MORANGOS. NO VERÃO NÃO TOMO CAFÉ DA MANHÃ SEM MELANCIA. AINDA TEREI UM MÓBILE DO CALDER. COMETO BARBARIDADES POR UM SWATCH.
"DIZEM QUE EU MUDO MUITO".


terça-feira, outubro 17, 2006













“Há quem prefira urtigas”




“Quando Ana sai do seu mundo (a organização que ela dava aos fatos da vida) e entra no mundo (o caos informe, o desconhecido), ela perde a falsa identidade que mantinha para os outros, a personalidade retificada, para enfim construir uma nova identidade mais autêntica, na qual ela entra em contato com os seus demônios interiores, desafia as normas sociais de bom comportamento e sente-se livre, absolutamente livre. Dentro do seu casco, dentro do seu universo familiar, Ana se mantinha dentro dos limites de uma vida artificial, sem o contato íntimo com o seu Eu profundo”.


Ana acordou sentido dores no estomago. Pequenas fisgadas. Como se fossem bichos. À espreita. Querendo sair. Como um calango. Faminto. Decidiu matar o marido. Nesta mesma manhã das dores abdominais. Enquanto lavava as louças do café, pensava em como faria isso. Ou melhor, que arma usaria para consumar seu ato homicida. Foi quando teve a revelação. Cravaria uma faca no seu peito. Sim. Usaria a faca de aço inox que ganhara no dia das mães. Não entendia essa obsessão dos homens em dar utensílios domésticos no dia das mães. Detestava mães. Dia das mães. E tudo que de alguma forma remetessem a elas. Não tivera filhos. Não gostava de crianças. Elas sempre lhe pareceram seres de outro mundo. Temperamentais e insubordinadas. Além do mais havia as fraldas. Coisa asquerosa. Trocar fraldas. Definitivamente a vida doméstica não lhe apetecia. Nenhum pouco. Estava destinada ao luxo e a sofisticação. Pena não ter combinado com o destino. Destino. Sujeitinho estranho. O que Bette Davis faria numa situação como essa? Ascenderia um cigarro. Na certa. Beberia consternada por todos os seus fantasmas. Enxotados de seu guarda-roupas velho. Que manhã com gosto de desesperança. Amargo. Parece-me que fui pega em flagrante. Condenada as zilhões de anos no purgatório. Por superávit de pecados e amoralidade. Ana. Ana. Devagar com a louça. Xícara quebrada. Mais uma. Sorte.
Queria mesmo é ter sido arquiteta. Planejar e realizar o sonho de pessoas. Pessoas sofisticadas. Cultas. Importantes. Pensar e organizar os espaços. Proporcionar maior conforto aos ocupantes. Conforto. Nunca experimentou conforto algum. Tudo o que sobrou foi uma vidinha proletária. Ao lado de um gordo escroto. Meu marido. Imagine eu, Ana casada com um caixa de banco. Um reles caixa de banco. O que é um caixa de banco? Nada. E a sua esposa? Menos ainda...
Precisava de uma música. Como nos melhores suspenses Hitchcockianos. Que trilha usaria? Nina Simone? Não, muito sensual. Ella Fitzgerald? Talvez...Quem sabe Julie London. Que música? Elegante e fatalista ao mesmo tempo... Cry me a river. Perfeita!
Olhou para as unhas. Estavam horrendas. Precisava ir a manicure. As mãos deveriam estar impecáveis para o último ato de hoje à noite. Além do cabelo. Tinha de dar um jeito naquele cabelo.
Enquanto lavava os talheres, deixando-se levar por pensamentos prosaicos, tirou uma lasquinha do dedo. Instintivamente chupo-o. Isso a deixou ligeiramente excitada.
Tinha um marido gordo e suarento que a possuía. Quase sempre a sufocava com o peso descomunal de suas epidermes super infladas. E roncava, o porco. Por vezes, levantava-se então e, chorando baixinho masturbava-se. Pensava em ir embora, mas, voltava. Rolava e tentava dormir. Ana, Ana...Ainda ostentava um ar de romance fracassado. Daqueles de folhetis baratos. Vendidos em bancas de jornal para donas de casa frustradas. Um Odair José encadernado em edições de bolso.
Vinte e dois anos desperdiçados. Numa vida que definitivamente não era a sua. Um Sinatra decadente. Cantando pela milésima vez, “My Way”.

sexta-feira, outubro 06, 2006






















"Jardim de Cactus"






Marta acordou tremendo. Fazia muito frio àquela hora da manhã. Parece não ter tido pesadelos naquela noite. A única coisa que se lembrava era que precisava fumar um cigarro. Mas, onde tinha colocado o maço? Teria ainda ao menos um solitário na bolsa? Nada. Talvez ele tivesse. Procurou em todos os bolsos da sua calça.Em vão. Ele disse que tinha parado de fumar. Droga!
Começou a se vestir para descer e comprar um maço novo, quando percebeu um movimento na cama. Ele era tão bonito enquanto dormia. Gostava de ver pessoas dormindo. Parecem tão desprotegidas. Mas, naquele momento não gostou de ter alguém dormindo na sua cama. Podia ouvir de longe, em algum apartamento a canção: “...e se não houvesse o amor...”. Uma sensação ruim brotou no seu peito.
Pedro era o nome dele, ou pelo menos era o nome que ele lhe dera quando se conheceram. Já fazia algum tempo que estavam juntos. Ma sempre tivera a sensação de tê-lo conhecido na noite passada tamanho era o desconforto em pensar numa relação de quase dois anos com alguém.
Precisava de um cigarro. Enquanto vestia o suéter notou que ele a observava.

Pedro - Aonde você vai?
marta - Comprar cigarros.
Pedro - Devia para de fumar.
Marta - Devia, é?
Pedro - Sim, as pessoas costumam morrer de câncer...
Marta - Morrer-se também de outras formas. Tédio por exemplo...
Pedro - Mas, é bom não facilitar.
Marta - Você me ama?
Pedro - O que?
Marta - Eu perguntei se você me ama.
Pedro - Porque a pergunta a essa hora da manhã?
Marta - Não sei, só queria saber se você me ama.
Pedro - Você e os seus clichês matinais à queima roupa.
Marta - E qual é o problema?
Pedro - Nenhum. Exceto eu ainda não ter tomado o meu café.
Marta - O que uma xícara de café tem haver com isso?
Pedro - O que o amor tem haver com nós?
Marta - O que?
Pedro – Nada.
Marta - Você ainda não respondeu se me ama.
Pedro – Volta pra cama Marta.
Marta – Você me ama?
Pedro - Ai, mãe Deus porque isso é tão importante para você?
Marta – Não me responda com outra pergunta.
Pedro - Não é isso. E que você me pegou desprevenido.
Marta - Peguei você desprevenido?
Pedro - A essa hora da manhã as pessoas precisam de um tempo para acordar. Se situar em mais um dia de cão.
Marta - Sei, agora é a hora inconveniente?
Pedro - Mais ou menos isso...
Marta - Eu...eu...eu não sei te amo mais...
Pedro - O que?
Marta - É, eu não sei te amo mais!
Pedro - Peraí, você esqueceu de tomar o seu Prozac ontem?
Marta - Não.
Pedro - Está de TPM?
Marta - Não.
Pedro - Não foi bom para você ontem?
Marta - Não, não é nada disso. Não se trata de sexo satisfatório ou caixas de antidepressivos.
Pedro - E o que é então?
Marta - Eu não sei se te amo mais...
Pedro - Isso eu sei, quer dizer, você já me disse.
Marta - Acho melhor você tomar logo o seu café.
Pedro - Não quero mais, perdi o apetite.
Marta - Agora a culpa é minha pela sua perda repentina de apetite.
Pedro – E por que não?
Marta - Por que não sou eu que não quer responder a uma perguntinha super simples, feita pela pessoa com quem você mora a quase dois anos.
Pedro - Perguntinha simples, é? Sei...
Marta - E não é?
Pedro - Não nesse momento.
Marta - E qual será o momento?
Pedro - Talvez mais tarde.
Marta - Mais tarde, sempre mais tarde...e depois mais tarde.
Pedro - As vezes eu não te entendo.
Marta - Deve ser mesmo difícil.
Pedro - O que?
Marta - Me agüentar, me entender, dormir comigo, fazer amor comigo, responder minhas perguntinhas super simples.
Pedro - Você é quem está dizendo...
Marta - E você não está fazendo nenhum esforço para discordar.
Pedro - Nós não tínhamos combinado de apenas nos vermos para um sexo casual? Sem envolvimento emocional? Não estava bom para ambos?
Marta - Se entrega Corisco!
Pedro - O que?
Marta - A Maria Bonita se cansou de viver no cangaço.
Pedro - Por que você não pode ser objetiva uma única vez?
Marta - Bem que minhas amigas tinham me dito que você não valia nada.
Pedro - Santo Deus! Agora você acredita em vadias consumidoras de substâncias alucinógenas?Qual será o próximo passo? Papai Noel, coelhinho da páscoa? Francamente eu esperava mais de você.
Marta - É o que as pessoas fazem. Esperam mais dos outros...
Pedro - Isso foi uma crítica?
Marta - Estou começando a pensar que o nosso relacionamento foi um tremendo equívoco.
Pedro - E o que você sugere?
Marta - O que sugiro? Sugiro o que duas pessoas que estão a mais de dois anos juntos fazem quando uma delas percebe que, esse mesmo relacionamento foi um erro. A separação.
Pedro - Separação?
Marta - É, cada um pro seu lado.
Pedro - Você acha mesmo?
Marta - Mas que droga! Que mania de transferir toda a responsabilidade sobre mim nos momentos decisivos.
Pedro - Quem tem medo de Virginia Woolf?
Marta - O que?
Pedro - Richard Burton perguntando à Elizabeth Taylor no final do filme “Quem tem medo de Virginia Woolf?”.
Marta - E o que ela responde?
Pedro - “Eu tenho George. Eu tenho”.
Marta - Nunca vi esse filme.
Pedro - Ela ganhou o seu segundo Oscar pela atuação no filme.
Marta - Só vi “Disque Butterfly 8”, e não gostei. Nunca gostei de Elizabeth Taylor. Sempre me pareceu uma puta bem maquiada em filmes de quinta.
Pedro - Não fale assim dela. Ela não tem culpa dos nossos problemas conjugais.
Marta - Não fui eu quem começou com esse momento cinéfilo existencialista.
Pedro - Você nunca gostou dos clássicos do cinema. Sempre preferiu os filmes descerebrados da prateleira de lançamentos da vídeolocadora.
Marta - Está sugerindo que sou descerebrada?
Pedro - Pense o que quiser...
Marta - Eu não penso querido. Sou descerebrada, lembra?
Pedro - Ironia não combina com você.
Marta - Quer saber, qualquer filme do Glauber consegue ser mais objetivo que você.
Pedro - Ah, não! Agora você está me ofendendo. Glauber mais objetivo que eu...só rindo.
Marta - Eu entendi o final de “Deus e o diabo na terra do sol”, e você não.
Pedro - Ninguém entendeu esse ou qualquer outro filme do Glauber.
Marta - Não tome os outros por você querido. Ninguém tem culpa das suas limitações intelectuais.Exceto você, é claro!
Pedro - Agora além de formuladora de perguntas fora de hora, você deu para ser especialista am desmascarar pseudo-intelectuais?
Marta -Vá se foder seu escroto de merda.
Pedro - Nós acabamos de nos foder agora a pouco.
Marta - Fodemos, é? Não se esqueça de deixar o dinheiro em cima da mesa.
Pedro - Ironia definitivamente não combina com você.
Marta - E inteligência com você.
Pedro - A sua mediocridade me comove.
Marta - Não me diga. Descobriu esse pequeno detalhe agora?
Pedro - Fiz um curso de vidência por correspondência ainda ontem.
Marta - Quando pensamos que seria para sempre?
Pedro - O que?
Marta - É, em que momento da nossa vida pensamos que seria para sempre?
Pedro - Sei lá.
Marta - Acho que nunca saberemos.
Pedro - Preciso de uma xícara de café.
Marta - E eu fumar um cigarro.

quinta-feira, setembro 21, 2006






















"Riscos" - Goethe


Do que adianta você ter esta alma colada aos ossos dessa carne errada ?
Sem o risco, a vida não vale a pena.
Se você não quiser arriscar, não comece.
Isso quer dizer: se você arriscar, perder namorada, esposa, filhos, emprego, acabeça, e até a alma.
Mas, é sempre melhor isso do que olhar pra todas essas outras pessoas que nunca acertam porque nunca se propõe ao risco.


"Nus em Maio"

Vamos Ritinha

Vamos ler Fante na praia.

Pisaremos o chão

Minado de estrelas mortas.

Cataremos conchas para enfeitar

O nosso túmulo improvisado

Na areia.

Acenderemos uma fogueira

Com notas de um real.

Troco daquela garrafa

De comhaque barato

Que compramos no estrada.

E ao final,

Tomaremos banho de mar

Nus

Deixaremos para Iemanjá

Todas as nossas reticências.

Que ela farte-se

O tempo costumava parar

quando olhavamos para

sua imensidão azul.

Deve ter-se entediado

De nós.

Vamos Ritinha

Vamos ler Fante na praia.

sábado, setembro 16, 2006












"Não Quero" - Mário Quintana





Não quero alguém que morra de amor por mim... Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando. Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade. Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim... Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível... E que esse momento será inesquecível... Só quero que meu sentimento seja valorizado. Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor. Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto. Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho... Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento... e não brinque com ele. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo... Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz. Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,talvez obterei êxito e serei plenamente feliz. Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas... Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim". Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento. Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!!!

terça-feira, setembro 12, 2006



" Louco Infame"

Farol no ártico

Há três dias na chuva.

As crianças disfarçam

Melhor as suas tristezas.

Raposa sem amoras

Hoje são só os montes.

No último suspiro

Do moribundo sem dentes.

segunda-feira, setembro 11, 2006








" Malícia e Perversão"



Vesti o pijama da discórdia
Dormi no sofá de preocupações inúteis
Acordo colérico
Levanto com o pé esquerdo
Como o meu desejum
Com as mãos sujas
Dos pecados cometidos
Na noite anterior
Tenho de procurar outro lugar
Para morar.









"Jazzística"


Vários dias sem me comunicar
Será que voltei a ser anti-social?
Terei voltado a mentir em tempo integral?
Voltado a ser servil ao inimigo?
Algemado ao marasmo ritual
Acordar, levantar, andar...
Olhar-me no espelho
Conseguirei?
Sigo abrindo gavetas
Acomodando minhas almas mortas.
Que faço com essa vidinha?
Hipoteco, alugo, empresto, troco
Ou simplismente, vendo-a?
Mas a quem?
Ao santo não há de ser...

sexta-feira, setembro 08, 2006



"Panamá ao Sol"

Sigo o meu estágio de ibernação

Não me comunico nem mesmo

Com o meu cão.

As flores já morrerram

Por falta d' água.

Acho que me foi raptado

A vontade de ser inteligente.

Perdi minha imunidade camaleônica

De adaptar-me a ignorância alheia.

O fraque ficou curto

E a noiva resolveu não aparecer.



" Faltam Flores"

Fantasmas passam por nós

Num diálogo interminável.

Desvalorizada as suas leis,

Nada resta, senão, invadir

O campo adversário.

Especializei-me na derrota.

Ser a bola branca do jogo?

Ou valer-se do imponderável?

Levo comigo a escova e o creme dental.



"Aquele cabide no recinto do meu quarto, com toda a minha preguiça dependurada nele." (Mário Quintana)

"Perfis"

Reptéis da noite

Em busca de carne humana.

Rasteijando de bar me bar

A procura de emoções efêmeras.

Como num conto de fadas

Com a certeza e o pavor

Da abóbora alada.

quarta-feira, setembro 06, 2006











4V's

Quebrei o braço na sexta
ligaram para te avisar.
Pedi a João Caveira uma das braba
pra te amarrar.
No outro dia
chorei na feira só de lembrar
dos rabanetes - PORRA de salada
sinto falta.
Tá uma merda mesmo,
Vê se Volta Viu Veada.

(Lu Silveira)







"Pausa Para o Café"

Há algo de estranho na cordialidade
de meus inimigos.
Parecem-me à primeira vista,
vendedores de planos funerários.
Querem a qualquer custo,
meu corpo fétido e decrépido.







Terminal de Ônibus

- Oi.
- Oi.
- Você chegou agora?
- Há uns dez minutos.
- Desculpe te fazer esperar.
- Não faz mal.
- É que o coveiro morreu ontem.
- Sei...
- Sei o que?
- Nada não.
- Fala.
- Esquece, não é importante.
- Agora fala. Detesto histórias incompletas.
- Não era uma história.
- Força de expressão. Vai contar ou não?
- Já disse que não é importante.
- Deixa pra lá...
- Trouxe o que te pedi?
- Deu um puta trabalho.
- Consegui?
- Sim. Aqui está.
- Mas não foi essa que eu te pedi...
- Você não me disse que era a vermelha?
- Não, eu disse preta!
- A cor é tão importante?
- É claro! d. Áurea disse que tinha de ser preta.
- Vai demorar...
- Quanto?
- Uma semana.
- É muito. Não posso esperar tanto.
- Cinco dias.
- Quatro.
- Combinado. Tenho que ir.
- Espere. Dê-me a vermelha.
- Tudo bem. Até quarta.
- Até.
Hummm! O cheiro continua o mesmo.
Ainda não me traiu.

terça-feira, setembro 05, 2006

segunda-feira, setembro 04, 2006

"Cocaine"


If you wanna hang out you've got to take her out;
cocaine.
If you wanna get down, down on the ground;
cocaine.
She don't lie, she don't lie, she don't lie;
cocaine.
If you got bad news, you wanna kick them blues;
cocaine.
When your day is done and you wanna run;
cocaine.
She don't lie, she don't lie, she don't lie;
cocaine.
If your thing is gone and you wanna ride on;
cocaine.
Don't forget this fact, you can't get it back;
cocaine.
She don't lie, she don't lie, she don't lie;
cocaine.
She don't lie, she don't lie, she don't lie;
cocaine.

Perder-se de si mesmo.

A Tarde é Calma e o Céu Tranqüilo



Alice não mora mais aqui. Partiu sem se despedir. Fugiu sorrateira pelo telhado. Na calada da noite. Gata negra. Como a noite que a envolve. Partiu ciente de que encontraria abrigo em camas alheias. Camas essas, talvez, mais modestas, não menos acolhedoras. Era fissurado naquela nega.
Que coxas! Amoras maduras. Os seios! Dois anéis de Saturno.
Acho que ela não suportava traição. Costumava acordar sempre de mau humor. Eu também. Nunca gostou de dividir cigarros. Nem mesmo seu bourbon.
Era fissurado mesmo assim naquela neguinha.
Certa vez, me bateu com uma colher de pau. Disse que eu não tinha modos à mesa. Eu nunca soube como utilizar todos os talheres corretamente. Gosto mesmo é de comer com as mãos.
Também implicava com a minha displicência ao atravessar a rua. Ela não queria me ver morto.
Era fissuardo naquela neguinha. Melhor voltar a dormir. Talvez sonhe de novo com ela. Esgueirando-se lânguida em becos sujos e mal freqüentados. Ou quem sabe, morta numa sarjeta fedorenta que é o seu destino. Morta por um cafetão ciumento. Devendo o aluguel semanal do seu quarto fétido que dividia com um traveco sem dentes.
É isso. Morra sua puta! Te encontro no inferno.







“Nunca alguém pareceu tão triste. Amarga e escura, a meio caminho nas trevas, sob o feixe de luz que fugia do sol para encerrar-se nas profundezas, talvez uma lágrima se tenha formado; e uma lágrima caiu; as águas agitaram-se de lado para o outro e receberam-na depois, acalmaram-se. Nunca alguém pareceu tão triste.”

(Rumo ao Farol/ Virginia Woolf)




Cafés, Cigarros, Virginia Woolf e Algum amor


Marta acordou tremendo. Fazia muito naquela hora da manhã. Parece não ter tido pesadelos naquela noite. A única coisa que se lembrava era que precisava fumar um cigarro. Mas, onde tinha colocado o maço de cigarros? Teria ainda ao menos um solitário na bolsa? Nada. Talvez ele tivesse. Procurou em todos os bolsos da calça . Em vão. Ele disse que tinha parado de fumar. Droga!
Começou a se vestir para descer e comprar um maço novo, quando percebeu um movimento na cama. Ele era to bonito enquanto dormia. Gostava de ver pessoas dormindo.
Parecem tão desprotegidas. Mas naquele momento não gostou de ter alguém dormindo na sua cama. Podia ouvir de longe, em algum apartamento a canção: “...e se não houvesse o amor...”. Uma sensação ruim brotou no seu peito.
Pedro era o nome dele. Já fazia algum tempo que estavam juntos. Ma sempre tivera a sensação de tê-lo conhecido na noite passada tamanho era o desconforto em pensar numa relação de quase dois anos com alguém.Preciso de um cigarro.
Enquanto vestia o suéter notou que ele a observava.

- Aonde você vai?
- Comprar cigarros.
- Devia para de fumar.
- Devia, é?
- Sim, as pessoas costumam morrer de câncer...
- Morrer-se de outras formas também.
- Mas, é bom não facilitar.
- Você me ama?
- O que?
- Eu perguntei se você me ama.
- Porque a pergunta a essa hora da manhã?
- Não sei. Só queria saber se você me ama.
- Você e os seus clichês matinais à queima roupa.
- E qual é o problema?
- Nenhum. Exceto eu ainda não ter tomado o meu café.
- O que uma xícara de café tem haver com isso?
- O que o amor tem haver com nós?
- O que?